“Mas os olhos deles estavam como que fechados, para que o não conhecessem…” (Lucas 24:16)

Certo dia eu não reconheci Jesus, o Jesus que eu afirmava a todos que era meu amigo, na verdade era para mim um desconhecido. Ouvi falar que ele me apareceria, mas lhe impus o desafio durante toda uma noite e não o vi; depois de confiar no seu poder e pregar que ele cura as feridas da alma, ele não curou a minha; fiz uma campanha de oração e pedi um milagre em favor de uma situação familiar, mas não houve resposta… Esperei vê-lo e ele não me apareceu, esperei cura e ele não curou, esperei resposta e ele não respondeu, então pensei, “se é mesmo verdade que Jesus luta por nós, hoje ele perdeu!”.

Estou crente que algumas destas situações lhe pareceram familiar, tanto quanto a sensação vivida por dois dos discípulos de Jesus no capítulo 24 do Evangelho de Lucas. Depois de aprender a amar e adorar um Jesus que abria os olhos de cegos, ressuscitava mortos, podia perdoar pecados e curava doentes, custoso se tornou reconhecer um Jesus que apanhava e não reagia, era escarnecido sem responder e aparentava não ter poder para resistir, cada um dos açoites dos soldados importava em um golpe na fé de quem assistia… Jesus teria dado a eles falsas esperanças, e agora, pela primeira vez, estava perdendo, perdendo sem lutar!

Como reconhecer esse Jesus? Como aceitar que Jesus perdeu, ou sequer lutou em seu favor? Teria ele nos dado falsas esperanças? Como compreender que Deus não realizou o milagre que você pediu, abriu a porta que você esperou e nem lhe concedeu o bem pelo qual você tanto orou?

A morte de Jesus foi um golpe na fé daqueles que com ele conviviam, uns voltaram a ser pescadores, um deles cometeu suicídio, dois deles apenas resolveram abandonar o lugar onde tinham construído boa parte de suas melhores lembranças com Cristo e onde estavam congregados os demais, Jerusalém, e foram para Emaús, cidade que ficava aproximadamente a onze quilômetros de distância. Talvez para aliviar a tristeza, para “chutar o balde”, ou, simplesmente, por não fazer mais sentido permanecer em Jerusalém sem Jesus.

Tarefa sobremaneira desafiadora é superar a dor de ser desapontado por Jesus, por isso quando ele não nos oferece a resposta que esperamos, o pedido que rogamos ou a solução que julgamos precisar, é muito comum nos dirigirmos instintivamente para Emaús, exemplo de lugar distante daquele em que andamos com Jesus…

É possível que por conta de alguma decepção amorosa você esteja hoje caminhando para uma vida promíscua, muitos vivem experiência realmente traumáticas que os fazem correr léguas da Jerusalém espiritual, se afastando da igreja onde congregavam, do costume de orar, do hábito de ler a Bíblia, e atraindo-se pela Emaús dos vícios, da mágoa, da ausência completa de espiritualidade, da vida carnal, da pornografia, da inveja e de tudo aquilo que deixa o homem mais distante daquilo que viveu com Deus.

O desânimo daqueles peregrinos era tão grande que o mesmo Jesus que havia sido morto dias antes estava vivo ao lado deles, mas os seus olhos não o reconheciam. Jesus falava como estava planejada a sua morte e como havia um projeto divino e maravilhoso no seu martírio, mas o coração deles apenas ardia, pois não compreendiam a forte mensagem… Quanto o seu coração tem ardido por não entender os planos de Deus? Ardendo como uma ferida aberta no coração de uma mulher abandonada pelo esposo, ou de um pai que vê o filho se perder para as drogas, ou mesmo de um jovem que enxerga o tempo passar em desespero pela incerteza do seu futuro…

[slogan align=”left”]Como enxergar Jesus nessas horas? Como reconhecê-lo?[/slogan]

Ao cair a noite os peregrinos rogaram a Jesus que passasse aquela noite com eles, e, sentados à mesa, Jesus partiu o pão, e esse foi o gesto determinante para que fosse reconhecido, o gesto que foi tão repetido por Jesus, como nas vezes em que alimentou multidões com poucos pães e na celebração da páscoa… Distribuir pães era algo que fazia parte do hábito de Jesus, nisto ele foi reconhecido.

O pão em diversas culturas é um alimento de consumo diário, algo que todos os dias é consumido quase que como uma tradição, o próprio Jesus reconheceu isto, ensinando que os discípulos orassem suplicando a Deus o “pão” cotidiano, resumindo nele a expressão de todo o sustento básico familiar. Pão é algo que se come todos os dias, é um alimento comum, tenho amigos que diante de uma cesta de pães comem como se não houvesse amanhã…

Curiosamente, foi no partir do pão, num dos gestos mais comuns que Jesus fazia, naquilo que era praticado diariamente, nesse momento simples e aparentemente insignificante que Jesus novamente foi reconhecido pelos discípulos!

Há um grande problema na forma que temos encarado o evangelho, pensamos que Jesus se revela apenas no meio de eventos grandiosos e em obras imponentes… No entanto, a experiência daqueles peregrinos nos ensina a reconhecer Jesus nas coisas simples que ele nos ensinou, como na leitura da sua santa Palavra, nos momentos de oração, no perdão a quem nos ofendeu, num simples culto em sua igreja local, na resistência diária às tentações, na continuidade e dependência da vida cristã… É muito mais poderoso do que ver dois anjos voando com espada numa mão e uma harpa na outra, seis asas cada, uma auréola, roupa branca brilhante e rosto com luzes, simplesmente estar aflito e sem saída, abrir a Bíblia e sentir a boca do próprio Deus te dizendo: “Por isso não tema, pois estou com você; não tenha medo, pois sou o seu Deus. Eu o fortalecerei e o ajudarei; Eu o segurarei com a minha mão direita vitoriosa” (Isaías 41:10).

Do tempo em que Jesus viveu entre os homens muitas coisas mudaram, os meios de transporte (minha cidade agora tem metrô), os de comunicação (qual é mesmo o mais novo Iphone? O 500???), as instituições, a religião, a Igreja… Tudo mudou bastante! No entanto, uma coisa nunca muda, Jesus não mudou! Ele continua se revelando naquilo que nos ensinou, no partir do pão, na comunhão da Igreja invisível; na simplicidade do seu maravilhoso evangelho; na revelação da carta de amor à sua noiva, que é a Bíblia; na conversa e desabafo entre amigos, que é a oração; no ato de perdoar a ofensa do próximo pela certeza de que nossa dívida impagável também foi perdoada por Deus…

Portanto, sendo bastante claro, gentilmente devo alertar, pare já de esperar uma vigília de poder e avivamento para renovar sua vida espiritual, ou de esperar um congresso de jovens para novamente ter esperança de reconhecer Jesus, não é na figura de um profeta ou no show de seu grupo preferido que suas perguntas serão respondidas, mas sim no ato de valorizar dia após dia os recursos mais simples que Jesus nos reservou, numa oração de portas fechadas no seu quarto, em dar comida a quem tem fome, num gesto de carinho por quem precisa, em imitar Jesus nos pequenos atos, andar com ele todos os dias permite que possamos reconhecê-lo mesmo quando aparentemente a luta estava perdida.

No partir do pão ficou claro que Jesus não perdeu, que nem o aguilhão da morte pôde vencê-lo, no partir do pão os discípulos enxergaram um Jesus vencedor, ressurreto. As lutas que enfrentamos frequentemente nos cegam, por isso preciso dizer claramente: JESUS NÃO PERDEU! Ele nunca perde, ninguém sofre tanto com sua luta quanto ele, mas, assim como havia um plano de ressurreição na necessária morte de Cristo, há também um projeto de salvação e vitória em meio ao inevitável choro e sofrimento que enfrentamos no mundo.

Ao ser reconhecido, Jesus desapareceu frente aos olhos dos discípulos, que puderam então aprender a confiar num amigo que, embora estivesse invisível, não os abandonaria jamais, entenderam que a forma de agir do Mestre nem sempre pode ser entendida, mas é sempre maravilhosa.

Jesus havia falado com os discípulos que o pão que eles comeriam na páscoa era como o seu corpo. Se a metáfora ainda não havia sido compreendida, ali eles entenderam plenamente, assim como o pão é partido para servir de alimento, Jesus foi despedaçado e traspassado na cruz para nos garantir perdão de pecados e nos provar que é possível enfrentar a pior das lutas e, ainda assim, ser nele um vencedor!

O versículo 33 relata que os discípulos “na mesma hora, levantando-se, tornaram para Jerusalém”… Jesus não precisou dizer nada para que eles voltassem para onde estavam congregados os demais discípulos, também eu não preciso hoje lhe propor um desafio ou ensinar o que fazer, você sabe que é hora de voltar para Jerusalém.

Em Cristo.
Saulo Daniel Lopes.
saulo_daniel@hotmail.com

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