Hoje o esporte que mais cresce no Brasil é um esporte de luta. O MMA, um misto de diversas artes marciais, cresce exponencialmente, com uma quantidade de atletas, fãs e dinheiro envolvido, que podem ser caracterizadas como um verdadeiro fenômeno. Você deve se lembrar da grande repercussão da esperada revanche entre Anderson Silva e seu oponente Chris Weidman, em dezembro de 2013 (pra quem não está muito antenado, foi aquela luta em que o brasileiro acabou fraturando a perna). 

O enfoque da mídia na luta e o sucesso do UFC têm me feito olhar para a Bíblia e ver que este esporte também é um tema de bastante repercussão na palavra de Deus. Nela, porém, (na bíblia) a luta não é vista como um mero esporte, lazer ou divertimento. É muito mais. Na luta da Bíblia há muito mais coisa em jogo do que os muitos milhões que o UFC arrecada.

Destes textos bíblicos relacionados à luta um chamou-me bastante atenção. Escrevendo aos Hebreus, o escritor afirma: “Na luta contra o pecado, vocês ainda não resistiram até o ponto de derramar o próprio sangue” (Hebreus 12.4). Tal afirmação me fez entender algumas coisas a respeito da nossa luta, que não é meramente esportiva, mas uma luta pela sobrevivência. Esta luta não é opcional para aqueles que desejam fazer a vontade de Deus, é uma luta em que não se pode fugir, não há espaço para covardes. Obrigatoriamente precisamos lutar. Quando nos identificamos com Cristo assumimos uma posição, entramos em contato com o que é Santo, e tudo que foge do Seu padrão de Santidade passa a ser nosso adversário, em uma luta que está mais para guerra. Faço coro com as palavras do apóstolo Pedro, que afirma: “amados, insisto em que, como estrangeiros e peregrinos no mundo, vocês se abstenham dos desejos carnais que guerreiam contra a alma” (1 Pedro 2.11). Estamos em uma verdadeira guerra onde nosso inimigo tem poder de atingir não apenas nosso corpo, mas também nossa alma.

Sabendo que ao nos identificarmos com Cristo declaramos guerra contra o pecado e, obrigatoriamente lutaremos contra ele, precisamos aprender algumas coisas importantes a respeito dessa luta e do nosso adversário. Todo bom lutador estuda muito seu oponente antes de entrar em um octógono contra ele. Vamos então à nossa observação e estudo, analisando o texto de Hebreus 12.4.

O pecado deve ser nosso oponente

Na luta contra o pecado, vocês ainda não resistiram até o ponto de derramar o próprio sangue” (Hebreus 12.4)

Partimos de um pressuposto que parece óbvio, mas não é. O pecado precisa ser encarado como um adversário fatal. Por que afirmo que parece óbvio, mas não é? Tenho o privilégio de cuidar de alguns jovens na igreja em que faço parte. Porém em algumas vezes percebo algo extremamente triste. Alguns vêm à igreja, identificam-se com Cristo, percebem que precisam abandonar alguns pecados para participarem da Santidade de Cristo, mas não conseguem abandoná-los. O razão para esta dificuldade em abandonar pecados, em minha impressão é porque veem estes pecados não como inimigos e oponentes em uma luta, mas como amigos de quem precisarão se afastar para não desagradar Jesus, ou às vezes para causar uma boa impressão. Parece que deixar o pecado é como deixar um companheiro que fará muita falta. Esta percepção, até mesmo inconsciente e involuntária, faz com que não exista uma luta verdadeira, mas sim um afastamento temporário, que em algum momento chegará a um limite onde a saudade ficará irresistível e incontrolável e aí, então, haverá um reencontro, mais precisamente uma recaída. Por que isto acontece? Porque ao invés do pecado ter-se tornado um oponente, um inimigo ferrenho, vítima do nosso ódio, ele ainda é alvo do nosso amor. Um amor que disputa com o amor por Jesus, mas que é incompatível com a santidade deste Jesus, e que por isso gera na pessoa uma angústia, uma inquietação e um vazio na alma, que por vezes leva à apostasia, ao abandono da fé e à inconstância espiritual. 

Chego então a uma conclusão. Nunca lutaremos contra o pecado se ele não for para nós um inimigo ferrenho. Enquanto não odiarmos o pecado que cometíamos e cometemos continuaremos sentindo saudade dele. É semelhante ao povo hebreu quando saiu do Egito, onde era escravo e tinha uma vida horrível, sofriam demais, mas sentiam saudade do Egito quando as dificuldades surgiam. O povo hebreu não se lembrava do Egito com ódio da escravidão a que estavam sujeitos, mas com uma insuportável saudade dos pepinos e melões que tinham no intervalo entre um açoite e outro. Estavam livres, mas não gozavam da liberdade plena porque amavam mais um pepino do que a liberdade que Deus os havia proporcionado. Não foi à toa que esta geração morreu no deserto, sem herdar a terra. Dá para entender também o porquê de Deus ter transformado a mulher de Ló em uma estátua de sal. Ela estava sendo liberta de um lugar perverso e pervertido. A misericórdia de Deus, por causa de Abraão, chegou até Ló e sua família. Deus ordenou que ninguém olhasse para trás, em sinal de repúdio àquele ambiente em que viviam. Mas aquela cidade estava no coração da mulher, ela não conseguiu olhar pra frente porque amava o que estava ficando para trás. Infelizmente, ela amava aquele lugar que de tão inflamado pelo pecado estava à beira de uma grande explosão. 

Pare de ser um amigo, ainda que distante, do pecado. Comece a tratá-lo como o inimigo, oponente ferrenho e perigoso. Será impossível vencê-lo sem entender que ele guerreia contra a nossa alma, e guerreia para nos matar.   Caso contrário, nunca será possível lutar até derramar o próprio sangue.

O pecado só pode ser vencido com muito esforço

Na luta contra o pecado, vocês ainda não resistiram até o ponto de derramar o próprio sangue” (Hebreus 12.4)

A segunda constatação é que não se vence este perigoso inimigo sem muita resistência. Resistir até derramar sangue. A melhor definição de resistência que encontrei no dicionário foi: força com que um corpo reage à ação de outro. Quando o escritor está falando em resistir até o ponto de derramar sangue está falando em empregar uma força suficiente para suportar e conseguir reagir de forma positiva à ação do pecado. Sendo assim, resistir é fazer muita força, esforçar-se suficientemente para não desfalecer na luta. 

Ao longo de minha jornada cheguei a uma conclusão: eu não conseguirei vencer a luta contra o pecado que habita em mim, em minha própria carne, em minha mente, em meus olhos, em minha língua, em tudo que sou, se eu não empreender nesta luta toda a minha força. Nunca conheci alguém que tenha uma trajetória digna do evangelho de Jesus sem que este tenha dedicado o máximo de seus esforços no discipulado de Jesus e na luta contra o pecado. 

Ninguém vence uma luta contra um adversário forte e perigoso sem que esteja pronto a dar o máximo de si. Ninguém vence uma luta desistindo na primeira pancada que recebe. Ninguém vence uma luta de tal porte sem a coragem de chegar ao seu limite. Os grandes campeões são aqueles que superam seus limites. O que o escritor da carta aos Hebreus está nos dizendo é que devemos ir até o máximo que podemos ir. Gosto quando vejo um atleta do tipo Rocky Balboa (pra quem é mais novinho, é o boxeador representado pelo Silvester Stallone na série de filmes “Rocky” entre as décadas de 80 e 90). O Rocky apanhava muito a luta inteira, a última cena do filme quase sempre o mostrava desfigurado, ele chegava ao seu limite, ultrapassava-o e vencia com os supercílios abertos, com hemorragias, com fraturas, com hematomas, mas vencia sempre. 

Resista ao pecado até ultrapassar seus limites. Há um chamado urgente de Deus por gente que vai dar a vida por Ele, por mártires de uma nova geração, que derramam o sangue da alma recebendo golpes das tentações e do pecado. Mas que resistem até o fim! Seja você também um dos mártires da luta contra o pecado. Convido você a fazer deste o combate da sua vida. Dê tudo o que você tem em favor de Cristo, ultrapasse seus limites, chega de brincar de lutinha contra o pecado. Entre nesta luta com seriedade e aguente até o fim, há uma linda coroa (um cinturão) reservada para você.

O pecado deve nos machucar

Na luta contra o pecado, vocês ainda não resistiram até o ponto de derramar o próprio sangue(Hebreus 12.4)

Esta última constatação pode soar meio estranha para você, mas vou tentar explicá-la.

 O texto diz que devemos resistir até derramar o próprio sangue. Isto me faz chegar a uma conclusão: cada golpe dado pelo pecado fere. Nós não fomos criados para o pecado, o pecado fere o propósito de Deus para sua criação, à Sua imagem. Cada golpe que recebemos nesta luta nos faz sangrar. 

Porém, há um grande problema que em alguns momentos vejo acontecer em mim e em muitas outras pessoas. Existem situações parecemos confortáveis após pecar, ou ainda que não estejamos confortáveis, desconfortável também não estamos. Momentos que não causam em nós a ferida dolorosa e friável que deveria causar. Podem até causar certo grau de remorso, uma tristeza segundo o mundo, mas não a dor de ver sangrando o caráter santo de Cristo em nós. Acontece como se passássemos por um processo de cauterização. Nossas veias espirituais parecem queimadas, desvitalizada e insensíveis. Não sangramos o quanto precisaríamos sangrar. Não nos ofendemos como precisaríamos nos ofender, não choramos o quanto precisaríamos chorar. Não sangramos como precisaríamos sangrar. 

A consequência disto é que encaramos um golpe dado pelo pecado com uma naturalidade muito grande. Não há uma reação raivosa, desagradável, mas necessária. Estamos sendo contaminados por uma passividade, e até uma falsa paz, que fazem-nos pensar que está  tudo bem, que a graça de Deus nos perdoa. Isto é ilusão. Faço coro agora com o apóstolo Paulo em Romanos 6.1,2: “Que diremos então, continuaremos pecando para que a graça aumente? De maneira nenhuma! Nós os que morremos para o pecado, como continuaremos vivendo nele? A graça de Deus não pode servir para nós como anestésico ou como cauterizador para o pecado. O pecado deve machucar, deve doer, deve sangrar.

Sofrer com o pecado é nos identificarmos com Cristo quando Ele carregava a sua cruz. Sangrando, desfalecendo, padecendo necessidades, sentindo o peso nas costas, mas sofrendo o castigo que nos trouxe a paz. Jesus convidou seguidores a fazerem como Ele, levarem a cruz diariamente, sangrarem na luta contra o pecado. Onde cada golpe dado dói, mas não nos tira do foco de receber a coroa da justiça que está reservada para todos aqueles que resistirem até o fim.

O que nosso inimigo quer é que façamos como o Rei Davi fez. Após pecar, cometendo adultério com a mulher de seu soldado Urias, a primeira atitude do Rei foi tentar encobrir o fato e, de forma muito natural, bolar um plano para que não fosse “pego no flagra”. Como o plano não deu certo, de forma extremamente insensível, planejou a morte do marido traído. Não se vê, em um primeiro momento, qualquer sinal de sensibilidade à dor de Urias e à dor do próprio Deus, que não havia se agradado daquelas atitudes. O objetivo do inimigo é sempre este, que tentemos esconder o pecado e que nos preocupemos apenas em não sermos flagrados. Não quer, de modo algum, que o pecado doa em nós a ponto de nós ficarmos desconfortáveis e façamos o possível para corrigir o erro e voltar da rota errada. 

Em contrapartida, o que Deus espera de nós diante de um pecado é que tenhamos a mesma atitude do Rei Davi quando confrontado pelo profeta Natã. No momento da confrontação o pecado doeu, o feriu, fez sua alma sangrar. Apenas depois de sentir a dor que o pecado causou, de cair em si e de sentir uma tristeza que opera para arrependimento é que Davi encontrou a saída. Deus viu em Davi um choro de dor, a dor que o pecado causou. Foi semelhante ao que aconteceu com Pedro ao ver o olhar de Jesus, após negá-Lo. A Bíblia afirma que Pedro chorou amargamente. Deus espera este mesmo choro amargo quando formos surpreendidos por um golpe do pecado. A dor que sentirmos durante o golpe servirá de disciplina para que não caiamos no mesmo erro e tomemos o mesmo golpe novamente, gerando em nós o aprendizado. A verdade é que aprendemos com a dor.

Convido você a viver um tipo de luta contra o pecado onde cada vez que formos golpeados por ele lamentaremos e choraremos amargamente. Sentindo a dor lutamos com mais vigor para que mantenhamos nosso espírito íntegro, para que consigamos resistir e vencer esta luta. Convido você a ser mais sensível ao pecado, não para que isto te traga culpa e gere morte em você, mas para que gere dor e a dor gere motivação, e a motivação aliada à força que Deus nos dá nos conduza à vitória contra o pecado. 

Não peque, mas quando pecar vivencie a dor e os ferimentos que o pecado causou como uma disciplina, para que estes golpes tornem-se cada vez mais raros. Não permita que o pecado seja encarado com naturalidade em sua vida. Você, em Cristo, não pode aceitar o pecado sem que lhe cause uma ferida. Fique tranquilo, porém. Esta ferida dolorosa sangrante será cuidada pelo Médico Jesus Cristo e nossa dor será consolada pelo Espírito Santo Consolador. Você não estará sozinho quando sofrer pelas feridas que o pecado causou, mas precisará senti-las, reconhecer que elas doem e que não deveriam estar ali.

Na luta contra o pecado, talvez você não esteja lutando até o ponto de derramar o próprio sangue. Talvez hoje seja o dia de entender que o pecado deve ser um inimigo odiado e não um amigo ausente; que é preciso resistir até superarmos nossos limites, ser um Rocky Balboa; e que devemos sangrar na alma quando formos feridos pelo pecado, que doa para que sirva de lição. Meu desejo é que você seja vencedor nesta luta. Combata o seu combate, há uma coroa reservada para você e para mim, naquele Dia. Que Deus nos ajude hoje e sempre na luta para sermos mais parecidos com Jesus!

 Jonatas Leonio
izeppe.leonio@gmail.com

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