“No ano em que morreu o rei Uzias, Eu vi o Senhor num alto e sublime trono…”

(Isaías 6:1)

Impeachment, Lava-jato, atentados, terrorismo, inflação, desemprego, acidente aéreo… Crise! Estas palavras, de alguma forma, marcarão para sempre o ano de 2016, boa parte dos brasileiros possuem motivos de sobra para se queixar do ano que passou, muitos se lembrarão dele como “o ano em que perdi o emprego”, “o ano em que perdi meus pais”, ou por acontecimentos trágicos semelhantes…

Existem anos que ficam marcados em nossa vida por fatos negativos, e assim foi um certo ano da vida de Isaías, “o ano em que morreu o rei Uzias”, ao lembrar desse período o primeiro evento que lhe saltava à memória era uma morte, a trágica perda de um rei, contudo, ainda que este fosse o contexto, aquele triste momento também foi o que o profeta pôde dizer, “eu vi o Senhor!”

Como é difícil enxergar a presença de Deus no meio de tragédias e crer que há um projeto divino na esperança que falhou, ou que Ele está por perto quando a solidão grita tão alto… Mas ainda que o ano tivesse sido digno de esquecimento, Isaías conseguiu enxergar que, mesmo ali, Deus se fez presente!

Nosso maior desafio é o de enxergar Deus como tal, e não como um servo que executa piamente nossas ordenanças, para nós é difícil entender que Deus tem sempre razão, mesmo quando diz “não”! E ele é maior do que tudo, o conjunto das 100 bilhões de galáxias existentes no universo é apenas uma de suas preocupações. Quando percebemos que Ele é Deus quando dá e também quando tira, enxergamos como Ele é grande e que Ele é o Senhor, e nós os servos.

Isaías olhou e viu alguém capaz de preencher todo um templo celeste apenas com a borda de sua roupa, um ser cuja glória preenchia todos os lugares, e então o profeta percebeu o quanto era pequeno!

Um choque de realidade, isso é o que temos diante de um encontro com Deus! Nos julgamos perfeitos aos nossos olhos a tal ponto que até para descrever nossos defeitos falamos de virtudes, normalmente dizemos: “meu defeito é ser franco, perfeccionista e querer ser muito organizado!”, não me lembro de ter feito entrevista para alguém em meu escritório, ter perguntado o defeito do candidato e ouvir a resposta: “meu defeito é que eu sou muito falso!”; ou “tenho um problema sério que é a fofoca, adoro falar mal dos outros!”. Mas toda ordem de grandeza depende necessariamente de um referencial, por melhores que possamos ser em qualquer aspecto, perto de Deus somos apenas poeira! Num encontro com Deus, Isaías se lembrou de quem era, um pobre miserável, diante de um Deus tão grande é que conseguimos ver como somos pequeno.

Exemplo claro disso é que no capítulo 5 de Isaías enxergamos grandes lamentações e a descrição de um crítico quadro espiritual da nação, de modo que em seis versículos o profeta inicia a escrita com a expressão “ai daqueles que fazem isto ou aquilo…”, ou seja, uma grande apostasia espiritual tomava conta da nação e o escritor havia identificado bem a raiz do problema: Os outros! E para todos havia um “ai”, um castigo já previsto, Isaías alcançou a mesma ciência que mais tarde seria maximizada por Sartre: “O inferno é o próximo!”

Paulo aconselha, de fato, que não nos conformemos com este mundo (Romanos 12:2), de modo que temos razão em não nos conformar com nosso casamento, com nossa liderança espiritual, com o ambiente de trabalho, com a família… Muitas vezes, diante do inconformismo, somos conduzidos a promover mudanças naquilo que julgamos errados – Quero mudar minha esposa, meu pastor, meu chefe, meus pais e meus irmãos, assim o mundo será melhor! – Mas Paulo, no mesmo verso, nos ensina o que fazer ante o inconformismo: “Transformai-vos”!

Diante de Deus e de Sua grande imensidão e imensa grandeza, Isaías se viu pequeno… perante sua infinda santidade cantada pelos serafins que o cercavam, Isaías se viu sujo, percebeu que a mudança deveria partir de sua própria vida… E então detectou onde estava o verdadeiro problema e disse, “ai de mim, pois estou perdido!” (Isaías 6:5).

A grandeza de Deus nos transporta a uma noção de dependência e sujeição, e é maravilhoso cantar e celebrar a um Deus que conhece cada uma das trezentas sextilhões de estrelas e chama a cada uma pelo nome, sem confundi-las… É um privilégio saber que há um ser supremo, capaz de criar o universo com apenas um comando de sua palavra, e que este é o Deus a quem servimos…

Mas existem situações em que não nos basta ter um Deus que está num “alto e sublime trono”, distante e inacessível, contrastando com a nossa pequenez… Quando estamos aflitos e a nossa alma se desespera a tal ponto de até em nosso silêncio existir o grito de um coração despedaçado, o que verdadeiramente precisamos é de um Deus perto, alguém que fale, ouça, toque, interaja e seja capaz de entender e interpretar o que sentimos, ainda que nem nós mesmos entendamos… Era desse Deus que Isaías precisava, por isso, ao reconhecer sua pequenez, aquele Senhor já não parecia tão longe, já era alguém que podia ser identificado e que tinha um rosto definido, alguém mais perto, por isso ele levanta o rosto e diz “então os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos”.

E a aproximação continua, aquele Senhor que parecia intocável e imponente, incapaz de ser penetrado ou sondado, agora pede que um dos seus anjos se aproxime de Isaías (v. 6)! Mas ele não trazia uma bandeja com vitórias adocicadas como mel, nem ouro em pó, nem bênçãos agradáveis aos nossos olhos, olfatos e paladares… Trazia uma brasa de fogo tangida com um espeto!

Experimente fechar os olhos e lembrar da sensação de um café saindo do fogo tocando seus lábios e dilacerando toda a estrutura de sua boca pela quentura… Lembra da dor que isso causa? Agora imagina uma brasa ardendo em fogo tão forte que um serafim, cujo nome quer dizer “ser adente”, não ousou pegar com a mão, pense nessa brasa tocando na sua boca com impacto, e depois, atordoado de tanta dor, ouvir daquele serafim: “agora a tua iniquidade foi retirada!

A conclusão óbvia a que se pode chegar é que retirar iniquidade dói muito… Mas é o caminho inevitável de quem decide ter Deus próximo de si! Pecado não se cultiva e não se esconde, se confessa e se queima! Talvez signifique abrir mão de certas amizades, de um relacionamento que leva a pecar, repensar preferências e comportamentos, e ser confrontado com situações que você evita pensar ou não admite abrir mão… Tudo isso dói, e dói muito! Renunciar dói, perdoar também, se santificar mais ainda…

Aquilo era o mecanismo pelo qual o profeta estava sendo moldado… Com fogo! Apesar de sermos como barro, Deus nos trata como um metal precioso, que se molda com fogo, levado ao limite da temperatura para que a dureza dê lugar à capacidade de transformação…

Mas, depois disso, aquele ser que no início parecia tão grande, agora se fazia pequeno, o Deus imponente e inatingível, aquele mesmo do alto e sublime trono, se aproxima do profeta de lábios impuros, e Isaías então, surpreso e maravilhado, exclama, “E então, ouvi a voz do Senhor!” (v. 8). Não haveria maravilha maior, aquele ser maior do que reis e imperadores se aproximando de um pobre pecador e, de forma simples e direta, puxando uma conversa… Deus falou com ele!

Foi mesmo isso que Jesus fez, sendo Deus, se fez menor do que Ele, e se esvaziou de sua glória, diminuiu e se fez homem, diminuiu ainda mais e se fez o pior dos homens, diminuiu mais um pouco e morreu… E ainda diminuiu… provou a pior das mortes daquela cultura, morte de cruz (Filipenses 2:8).

Você já experimentou conversar sobre dívidas com um milionário? Ou falar sobre enfermidades com quem nunca ficou doente? É desolador!!! Por isso tantas vezes temos dificuldades de orar e de ter um bom relacionamento com Deus, pois aquela tamanha grandeza parece incompatível com nossos problemas, por isso em certos momentos precisamos não de um Deus enorme, mas, por estranho que possa parecer, de um Deus pequeno, com quem possamos ser irreverentes e informais, com quem possamos dividir segredos inconfessáveis sem sermos censurados, com quem possamos chorar sem vergonha… Jesus é este Deus! Sendo o maior, se fez o menor, para que, quando nos vir aflitos, amedrontados, traídos, famintos e desamparados, nos abraçar, enxugar nossas lágrimas e dizer “eu entendo sua dor”.

Deus é grande, enorme, imenso o bastante para lhe abrir um mar, refrear o ímpeto de leões famintos ou refrigerar uma fornalha… Mas se fez pequeno o suficiente para caber no seu coração e caminhar ao seu lado.

Em Cristo.

Saulo Daniel Lopes.
saulo_daniel@hotmail.com

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